terça-feira, 10 de novembro de 2009
Pa-la-vras
Mantenho o hábito de degustá-las, mastigá-las, e, principalmente, absorvê-las.
Gosto de escrever sentindo o sabor de cada sílaba, de pronunciá-las, talvez, para sentir seu timbre.
Gosto de ler e reler algumas, como se não bastasse devorá-las avidamente.
Prefiro escrever a dizer.
É que as palavras têm um charme, um enlace, jogo de sedução indescritível.
Não, não mando recados.
Apenas lanço-as no ar.
Não sei como vai entendê-las,
Se é que as entende, nesse mistério entre o escrito,o não escrito e o subentendido.
Entre o que registro e o que faço você pensar.
Gosto de proferí-las, cantá-las, e até me deixar agredir por algumas delas.
Deslizo os dedos sobre o teclado ou as risco raramente sobre o papel.
Só sei que estão ali, comigo, todos os dias.
E quando as dirijo a você, partilho pedaços do que me dissolve.
E se não lhes devolvo, é porque só te deixo o meu descaso.
São nelas, as palavras, onde me recolho.
Me salvo.
Me calo, ou me deixo gritar.
Viajo, me espalho, me estranho, me entrego.
Me curo.
É quando ultrapasso qualquer frivolidade,
Para me perder em lugares altamente sedutores,
Febris, voluptuosos, ingênuos, passionais...
Proferida, ao pé do ouvido, é como folha no Outono.
Composta, transcrita, redigida, ultrapassa quatro estações.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Digital
De um pensamento frequente e latente,
De explicações e divagações diversas,
Meu mundo digital.
Da vontade maluca de dizer bilhões de coisas,
De uma febre que toma conta e não passa.
De uma insanidade que me comoveria, se me bastasse.
E tento disfarçar tantos sentimentos que me tomam.
Mas os olhos - malditos olhos!
Denunciam tantos desejos que se movem, ardem, transcendem...
se eu não estivesse do outro lado.
E eu posso ver...
Teu semblante, teu olho, teu sorriso
Minha mão, por um instante, toca teu rosto.
E eu, por alguns segundos, perco o juízo.
Vem da brisa da noite, poderosa cor que pinta o dia
E transforma a paz em uma agonia
Que não dói, não machuca, apenas... inspira.
Mas novamente vem o dia, seus sóis, suas datas,
As páginas do calendário que se vão,
Minhas caras e bocas imperceptíveis do outro lado da tela,
Por um instante você está aqui, afagando meus cabelos,
brisa, noite, poesia, tédio ou remédio...
Do outro lado da tela.
Listening - "Translation" - Bluebell
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Se me atraso
Tua mão em minha nuca,
Teu olho perturbando meu juízo.
Minha boca procurando a tua.
Havia muita coisa a ser dita.
Silêncio.
Vontade que ardia.
Sem palavras, um beijo.
Adeus.
Correm-se dias.
Rio de lágrimas dentro de mim.
Vazio.
Sinto teu cheiro.
Aquela canção.
Pele nua e crua. Mãos.
Céu sem nuvem.
Noite.
Chuva.
Um acordo tácito,
Tempo perdido.
Perto e tão longe de tudo.
É que não me deixei sentir.
Passo à frente. Medo. Recuo.
Mais uma vez perdi.
Me atraso.
Deixei-me partir.
Não sei se perdi o trem,
Não sei se me parti em duas.
domingo, 9 de agosto de 2009
Transgredir
Só sei que ando, e choro.
E as lágrimas me correm o rosto, até que consigo um abraço.
E nesse afago eu tenho medo de contaminar você com a minha tristeza.
Vidro que se partiu, que me pôs a pele em carne viva.
Desespero que atravessa o coração, e me deixa sem voz.
Falta de coragem que me perturba.
Vontade de atravessar a rua.
Ser humano, quem é es tu?
Como posso viver, inconformado?
Quem me ensinou ser assim, transparente
Com esses perfumes que exalo?
Por que preciso sentir a vida,
Dar fortes tragos?
Por que não devo ser aquilo que foi anunciado?
Destino, que quiseste tu trazendo-me à tona?
Agora me rasga o peito essa tal fome de liberdade.
Agora dói nas entranhas a possibilidade de escolha.
Agora dá um nó no grito que precisa sair.
Agora sou eu, só, e preciso,
Transgredir...
domingo, 19 de julho de 2009
Bailarina
Qual seria o destino do pó que sai dos seus pés ao dançar?
No palco do teatro, ela é pura comoção, isso é fato.
No palco da vida, sem sua sapatilha,
Não há música, destino,nem certeira felicidade.
Há tempos procura o que não quer ser procurado.
Há dias em que passa perto da loucura.
Tem acessos de ódio e dias de cansaço.
Há dias em que é estranha e sozinha criatura.
Quem perdeu o bibelô, esta bailarina?
Que é tão mulher no seu afazer, e pobre criança fora dos palcos?
Que falta pra ela, doce criatura do olhar cansado?
É que não consegue mais pensar em futilidades.
Chega em casa depois de tanto dançar seu triste fardo,
e dorme serena, sem pensar no amanhã.
E no amanhecer de um dia de sol azul e sem nuvem,
Esquece os temores da noite.
Põe a música assim, a dançar
Bailarina, menina, com seus movimentos de luz
Esqueceste o quão boa pode ser a vida
Dos dias do sol quente lhe queimando a pele
Mesmo que não cicatrize a ferida,
ali, no palco da vida,
Com suas dores invisíveis,
Deixa voar o pó das sapatilhas.
domingo, 5 de julho de 2009
Vícios ou virtudes
Atraso
Por mais que os ponteiros do relógio me digam que é a hora,
Me atraso.
Cansaço
Não sei se paro, me calo ou explodo tudo.
Descaso
Me olha com ardor e guarda em seu interior uma imaturidade estúpida.
Silêncio
Paro o que tinha pra fazer enquanto escuto uma música muda.
Minutos
Tempo suficiente para que lhe arranque da boca o beijo que desejo.
Letargia
Estado em que me encontro quando busco forças em um suspiro profundo.
Desconcerto
A capacidade absurda que tens de não me deixar em paz.
Descomedimento
O gosto doce da bebida que me deixa leve a cada gole.
Desgosto
Sabor amargo do dia seguinte que clareia atos absurdos de uma noite anterior.
Arrependimento
Vocábulo desconhecido.
Mais
Precisar além, outra vez, em maior grau e quantidade.
Liberdade
Vontade de não estar onde deve estar . Não limitar a própria vontade.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Fragmentos do eu
Um mero imperfeito, acaso defeito
Mortal, se sabe.
Parou para sentir sob os pés o barulho das folhas secas desmanchando.
Não havia paz, não havia dor.
Havia o mudo.
Olhava-se no espelho e perguntava-se: quem é este?
Andava a esmo sem pedir e sem dar-se conta.
Nascer, viver, existir.
Fragmentos de vida em flashes.
Lembrou-se de que não havia sido feliz até ali.
Recusou convites,
Evitou pessoas,
Proferiu poucas palavras,
Atravessou a rua.
Não foi amante carinhoso.
Não fumou maconha.
Não gritou quando teve vontade.
Não disse tudo o que tinha pra dizer para quem merecia ouvir.
Palavras polidas, tão medidas para evitar estragos!
E agora ali, seu veredicto.
Pensou em deixar cartas.
Pensou em viver tudo em dois dias.
Pensou em pedir ajuda, dizer o que estava entalado.
Haveria outras vidas, talvez?
Haveria de se reconhecer no espelho?
Deixaria de pensar no depois?
Gostaria de ser mais amado?
Se ele morresse amanhã, era fato.
Faltava-lhe tantas coisas!
Sentia-se vivendo ao acaso.
O amanhã, será um fardo?
Não há mais nada a temer.
Perdera tempo com divagações tolas.
Palavras proferidas ao acaso.
Não há nada a perder.
Pedaço de trapo humano, presente é seu verbo.
domingo, 14 de junho de 2009
Miserável inocência
Crianças, não eram.
Tinham a diminuta estatura, e também a pouca idade.
Seres agressivos, tinham as mãos calejadas pelo pouco ócio
Um linguajar absurdo,
Algumas palavras impronunciáveis.
Meu Deus!
Aonde criaram estes pequeninos seres hoje endiabrados?
Por que eles já sabem dos absurdos que falam?
Seus trejeitos e manejos passam longe da inocência.
Vida ingrata!
Acaso foram alimentados ao nascer?
Afinal, sentiram o amor no seio materno?
Não há amor naqueles olhares.
Existe uma malícia profunda no modo como olham e falam.
E os transeuntes também fazem pouco caso do fato.
Seguram suas bolsas com passo apressado ou despejam-lhes nas mãos algumas moedas.
Criaturas pequenas e sem casa.
Como conhecer o amor se foram concebidos ao acaso?
E que culpa possuem de serem marginalizados?
Quem ao certo, teria escrito destino tão cruel e fadado ao fracasso?
Talvez nem o amor corrija esse pecado.
Choque profundo, seriam perfurados com dor
Como as lâminas cortantes que carregam.
Que seriam essas criaturas, de olhos ardentes?
Onde foi parar a inocência de quem chora por um brinquedo?
Pequenos seres, inclassificáveis.
Produto de que, ninguém sabe.
Tortuosos caminhos são os que percorrem.
Ruas e avenidas sem destino.
Deveriam ser pequenas crianças sorrindo em seus lares.
Mas, meu Deus, são pequenos marginais disfarçados.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Dizeres
E digamos que eu leve isso muito em consideração.
Dizem, por exemplo, que vêem muito amor em meus textos.
Que pareço sempre estar apaixonada.
Que sou eu demais quando escrevo.
Perguntaram-me, certa vez, no que eu ainda acredito.
Nestas conversas, sabe? Quando a gente pára pra pensar a que viemos.
E eu disse que só acreditava no amor, sentimento mais sólido impossível.
Foi quando me disseram: "ah, o amor também já foi corrompido".
Parei pra pensar, e não consegui ver amor corrompido.
Sei lá o que essa palavrinha significa para cada um de nós,
Mas amor declarado, rasgado, como amor de mãe e filho ou amor de amigo, nunca morre.
Talvez eu esteja errada, mas acredito em amor eterno.
Só que não podemos esquecer que aqui é um espaço para devaneios, então, deixem-me divagar nestas mal traçadas linhas, desta vez, sem rimas.
Mas acontece que cada pedaço do dia modifica a gente,
Alguns pensamentos morrem, outros perduram,
E não sou mais quem era ontem.
Parei de acreditar em príncipes - faz tempo.
Parei de acreditar em felicidade plena.
Parei de acreditar em declarações súbitas de amor.
Parei de acreditar em manifestações de carinho de quem mal conheço.
Parei de acreditar que fingir é o melhor remédio.
Só que ainda não consegui deixar de me apaixonar todos os dias.
De colocar amor em tudo o que faço.
De não olhar nos olhos quando carrego uma mágoa.
De negar um abraço quando estou triste com quem me feriu.
De dizer a verdade quando ela me é exigida.
De mostrar que gosto mais de você do que você de mim.
De sorrir com o fundo da minha alma, só pra te dar bom dia.
De soltar gargalhadas histéricas porque, realmente, achei muito engraçado.
De mandar uma mensagem porque me preocupo.
De falar de amor quando ele está corrompido.
De dizer te amo, sem necessariamente querer recebê-lo de volta.
De ouvir a mesma música um milhão de vezes,
Porque simplesmente, me apaixonei pelos seus acordes.
De amar, desesperadamente, sem saber a quem, ao que, por quê.
De ser piegas do início ao fim deste texto,
Porque o amor só acaba se conseguir a façanha de corromper-se a si mesmo.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Escritos
Não, não quero entender.
Não sei se faço poesia muda,
Não sei se voce é digno de merecer.
Andei com lágrimas no rosto.
Tentei, mas não pus fim ao desgosto.
Remei, remei e consegui.
Adoro seu beijo de chegada e antes de partir.
Às vezes parece temporal.
Passa, arrasa e faz mal.
Noutras é noite prateada,
Sorrisos, boas notícias e alma lavada.
Às vezes não sei escrever.
Noutras te odeio porque não sabes me ler.
Detesto auto elogios e como se põe em primeiro lugar.
Melhor curar sua baixa estima, antes de alguma coisa falar.
Primeira pessoa do singular, por que sempre eu?
Tanta coisa boa a falar, tanta coisa que se perdeu...
Prefiro a mesa do bar, os poucos amigos, a velha rotina
Fazemos filosofia, falamos sobre o tempo, a cidade -
teorias divinas...
Divino é estar assim, este poema, cheio de tantas pessoas,
E eu que achei que era só,
Do bem e do mal, só ficam as coisas boas.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Acaso
Procuro e vem você em meus olhos.
Do jeito que fala poesias,
E traz alegrias
Pros dias tristonhos.
Com esse seu jeito cabreiro, cabelo maneiro e ar descolado.
Nossas conversas nunca beiram ao tédio.
E caso acabe o assunto, uma boa risada ainda é o remédio.
Capaz que o tempo passe e a poesia se apague com o pensamento.
E você não vai encontrar o meu texto,
Apenas pretexto para lhe falar.
Me traga o teu violão, que eu trago a canção para musicar.
Eu junto minha letra com a tua, em dia de lua, para clarear.
O resto a gente conversa, não há que ter pressa,
Mas pra que esperar?
Encontro é obra do acaso -
Se eu não te conto que fui te encontrar.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Ideologia hipócrita
Participava de movimentos estudantis,
Combatia os pensamentos capitalistas mais vis .
Defendia a democratização da comunicação, a rádio poste, os movimentos sindicais
Visitava acampamento dos sem-terra e pra ele eram os amigos mais legais.
Depois ele arrumou uma namoradinha burguesinha, por assim dizer
Abandonou a calça rasgada, o cabelo desgrenhado, a camisa do Che.
Não disse muita coisa, afinal, o que havia pra dizer?
Estava apaixonado, achou lindo esse modo de viver...
Acabou a faculdade, ele deixou de ser genial.
Diploma debaixo do braço, precisava de um emprego, etc e tal.
Não havia justificativa para sua conduta,
Mas pra que justificar, o tal do Karl Marx não era um burguesinho filho da puta?
Ainda havia chances pra ele se redimir.
Só havia um jeito de alimentar os pobres e seu destino cumprir.
Não quis mais dar satisfação ou ser socialista,
Guardou o diploma na gaveta, se candidatou a um cargo público
E foi ser petista.
sábado, 9 de maio de 2009
Ausência
Nem nas palavras absurdas que a cigana me falou.
Nem nos devaneios mais loucos da amada avó.
Muito menos nos olhares lascivos que me lançavam.
Não estava escrito no meu livro da vida,
Que, como todos sabem, fica em um cantinho empoeirado do céu.
Não estava em minhas veias e eu sequer sentia.
Nunca apareceu em meus sonhos.
Talvez fez parte de mim em outra vida.
Ou participou das cenas do filme insano que criei pra mim.
Não estava nas páginas de jornais, nem no outdoor estragado pela água da chuva.
Nem no sorriso do menino que brincava com bolinhas de sabão na calçada.
Talvez eu sentisse nos acordes da música,
Porque na letra - também não estava.
Não estava nas minhas poesias,
Ainda,
Não estava.
domingo, 26 de abril de 2009
Miscelânea
Tenho passeado em relatos de vidas tantos
E às vezes tenho a sensação de que estou mais perto de Deus.
Quero resolver seus problemas.
Quero denunciar, colocar o dedo na ferida, espalhar pra quem quiser e não quiser ouvir.
Quero ser artista.
Volta e meia danço em frente ao espelho tomando meus goles de vinho.
Tenho medo das aproximações que não dizem a que veio.
Se me alfineta, saiba que em nada me afeta - você disse o que mesmo?
Sinto um aperto no peito quando me conta que está triste.
Adoro aquele que só irradia luz por onde passa -
Às vezes me esmero em captar seu brilho.
Adoro seu sorriso tímido de quem está louco pra me dar um abraço.
Quero oferecer meu colo em seu cansaço.
Voar com você, subir, subir.
Tenho vivido demais, vidas não tão minhas.
E durmo feliz quando sei que te plantei um sorriso.
Ando em caminhos não tão meus,
E amo voltar pra casa, em um dia cansado,
Te deixo meu nome, e meu telefone
Talvez não me ligue, nem deixe recado,
Mas eu irei atrás de você até o fim.
Agora eu sei, tens uma luz e eu também.
E rezo todos os dias pra poder irradiá-la tão grande
quanto a felicidade descabida que carrego em forma de sol e sorriso.
Quero o dom, o tom, a cor.
Quero você comigo.
E podes segurar minha mão...
Se pensas que te guio, engana-se.
Me carregas, junto contigo.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Desejo
Uma música lenta soava pelos meus ouvidos
Eu me enebriava em cada acorde, sozinha.
Tantas palavras a serem ditas,
Mas o silêncio e os olhos nos olhos diziam tudo.
Portas d´alma!
Fechei os meus, porque não queria ouvir aquele discurso absurdo.
O som das palavras proferiam amenidades que não queriam estar ali.
Me vinha do passado o choro mudo,
A vontade de correr o mundo
O rasgo no peito que não queria sair,
Uma presença que teimava em não partir,
Minha mão trêmula que desejava descontar fisicamente a dor que me sangrava.
O golpe do meu braço foi interrompido.
Seu olho lia minhas ações previsíveis e impulsivas
Odiava o modo como me conhecia.
Me perturbava a água que caía lá fora
Porque desaguava igual dentro de mim.
Corri, como quem se esconde
Sua presença insistente teimava em me seguir.
Relutava e fechava os olhos para que fugisse de mim.
Mas você ainda me lia, e estava ali.
A música tocava mais alto,
Um arrepio percorreu meu corpo,
Seus olhos pararam de me dizer coisas.
Eternizou meu pecado,
Em um beijo consentido, no batom que tiraste da minha boca,
E puseste colocado na sua.
Silêncio.
Minhas mágoas se calaram no calor de um desejo súbito,
Em um orgulho ferido mudo,
Em mãos que percorriam nervosas o meu corpo,
Na chuva que cessou com o calor dos seus lábios,
No sussurar de palavras que nunca foram entendidas,
Em um universo de sabor inexplicável,
Em um desejo ardente, insuportável
Mágico,
Incontrolável,
Único, vazio.
segunda-feira, 30 de março de 2009
Amenidades
daqueles em que o céu amanhece bem azul e os pássaros cantam.
Encontrou tanta gente cantando na rua, que deu vontade de cantar também.
Ela sempre canta, mas canta baixinho, com medo de descobrirem os seus segredos.
Deu vontade de andar a pé, e ir olhando o caminho.
Sentia as pedrinhas da calçada no fundo da sapatilha baixa,
do jeito que gosta assim, de estar, bem à vontade.
Sorriu para o menino pequeno que sorriu para ela sentado na calçada.
Saiu com os óculos de armação quadrada preto e branca que a deixa um tanto sisuda,
Mas logo a máscara cai, e ela cai no riso se vê algo absurdo.
E lá vem pela rua sapeca, a menina moleca
Com aquele sorriso safado de menino pequeno aprontando algo.
Vez ou outra dorme até sem rezar, mas o Pai lá de cima balança a cabeça, sorri, e perdoa.
Não é por acaso o cansaço,
Passou o dia todo a brincar.
Brincar de viver vida de adulto, pensa que é gente grande.
Mas quando dá um aperto no peito e não tem quem abraçar,
Ela deita na cama e cai no choro.
E só dorme feliz sem rezar nos dias que encontra seu grande amor,
um dia pequeno,
Que a distância não é capaz de apagar.
Os risos, as histórias, as mãos, o olhar terno
Uma boa notícia,
Tempos vindouros,
Um "eu te amo" na tela do computador...
Uma lágrima, dois sorrisos,
Câmbio, desligam.
E dorme do mesmo lado da cama,
Segurando o dedo,
Um sorriso no canto da boca,
Adormece, e sonha.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Comédia da Vida Privada?!
Privada. É pra este lugar mesmo que devereríamos mandar certas situações de nossas vidas. Hoje eu vou falar sobre relacionamentos. Não em forma de poesia, como venho fazendo quase sempre por aqui, porque certos assuntos perdem o brilho e têm que ser discutidos em forma de prosa mesmo. Longe de mim aqui querer dissertar histórias de relacionamentos como muito bem fazem as mulheres do blog Mulé Burra, contando dramas femininos em relacionamentos com uma boa dose de humor, sempre necessário.
Mas eis que eu vejo tantas amigas (e não fujo aqui do exemplo) que passam por situações que trago à tona hoje. Primeiro, a moça conhece o cara. Ou em um ambiente comum dos dois, seja escola, cursinho, faculdade, ou em uma festa, ou foram apresentados por amigos em comum. Começam as trocas de olhares, conversinhas e, depois de um certo tempo, um arquétipo de casal se forma. Não é bem um casaaal, porque eles só ficam juntos quando ele liga - e a boba aceita em ir encontrá-lo "porque ele foi tão carinhosinho no telefone, me mandou uma mensagem linda..." e é aqui que o drama se inicia.
Claro, ninguém começa um relacionamento namorando. Então no começo é somente aquele fica-fica, adiciona ali no msn, em site de relacionamentos, se encontram mais vezes, mas ninguém tem responsabilidade em dar satisfação da vida pro outro. Mas o relacionamento vai ficando cada dia mais gostoso, geralmente a moça se envolve muito mais, conta para as amigas sobre "o peguete" que está ficando, e por aí vai. Ele lhe manda links de vídeos de músicas no youtube que ela assiste vezes e mais vezes, e, pra não cair no esquecimento, ainda cantarola tomando banho e saindo de casa.
Depois de um certo tempo, o cara some. Não deixa mensagens, não liga, não dá notícias. Ela liga, ele é super frio, dá desculpas para não sair. Ele mal puxa uma conversa esporádica no msn. Mais uma tentativa da moça, eles conversam, e ele diz que não dá pra ir adiante, que eles estão se apegando demais, que não quer um relacionamento sério no momento. Os motivos? Milhares. "Não é você, sou eu", "A gente se encontrou na hora errada", "Você merece um cara melhor", "Não tô com cabeça pra namorar agora", e por aí vai. A moça, toda abatida, conversa com as amigas. A amiga sincera saca que o cara quer dar o fora, pede pra ela tocar a vida e seguir adiante. Mas a amiga abandonada continua a acompanhar a vida do cara na Internet, ainda assiste aos vídeos no youtube, ainda se perde na aula pensando no canalha e em todas as palavras tolas que ele lhe disse, nas risadas que deram, no beijo de perder o fôlego, move e remove o mundo e não entende por que não deu certo.
Passados mais alguns dias, o resultado. A moça está novamente navegando na Internet, tentando ignorar os vídeos do youtube e vai na página do site de relacionamentos do fulano, assim, como quem não quer nada... Novidade pra ela, o status mudou: namorando!!! Como assim? Por que não comigo? O que eu tenho de errado? Mais uma volta no site para ler os depoimentos da namorada pra ele, dele pra namorada, olhar fotos e legendas clichê, do tipo "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você" e por aí vai.
Dor, orgulho, ódio... e a pobre moça não entende porque foi substituída por uma moça feia, ou semi-analfabeta, ou com péssimo gosto musical, ou dançarina de arrocha, ou com um belo derrière, mas sem nada na cabeça... "Onde foi que eu errei?" - ela se pergunta.
Como um bom drama, a história acaba por aqui. Tinha que ser chocante? Pois é, essa é a realidade de muitas mulheres por aí. E aqui está a minha admiração pelo sexo feminino. Ela está sempre ali, sofrendo, acreditando, lutando. Resolve no dia seguinte acordar belíssima, colocar a melhor roupa, mudar o cabelo. Olha para os lados e descobre que seu novo alvo é... gay. Passam-se os dias e aquele gatinho que está dando mole pra ela na fila do banco é... casado. Sai pra uma festa, fica com um cara e no dia seguinte descobre que ele é... noivo há quinze anos. Desculpem o discurso feminino, mas é preciso ser muito mulher pra agüentar tudo isso, não cair do salto, continuar sorrindo e ainda jurar pra todos que o que aconteceu é passado, já foi. Mesmo que à noite ela ainda chore escondido ouvindo no mp3 a música que o cafajeste lhe mandou no vídeo do youtube, há exatamente quinze dias atrás.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Romance e banho de água fria
O fato é que se encantaram tanto um pelo outro que trocavam sorrisos com os olhos.
Ela tinha uma paixão infinita por tintas, pincéis, paisagens, bichos e cores.
Ele tinha um raciocínio lógico, mas por ela, morria de amores.
Eles perdiam as tardes conversando sobre os mais diversos temas.
Ela bebia vinho, sorria lépida e escrevia poemas.
Tinha raiva às vezes de deixar sair do peito seus amores.
Mas tremia cada vez que recebia cartas, poemas e flores.
Começou a mudar seu gosto musical.
Aceitava numa boa qualquer música que falasse de amor, carinho, etc e tal.
Tinha passado tanto tempo sem nada sentir, sozinha era ela
Encontrar um amor, tão parecido consigo assim, quem dera!
Só dela.
Dela? Quem era?
Ela estava sentada em uma sala em frente à tela de cinema.
O casal retratado estava ao seu lado.
Perdera o tempo em que passara imaginando coisas.
Besteira, amar, existe isso?
Começam as reflexões filosóficas.
Uma carreira, um trabalho, um filho...
Um pai para o filho.
Relacionamento estável. Não, não precisa ser estável.
Esse filme está um saco, foi-se o tempo em que chorava no cinema.
Quer romance? Leia um poema.
Cansou-se de ler Florbela Espanca e cantar Vinícius.
Nos dias mais frios, pegava o cobertor, o anti-depressivo
E assistia a dramas pra passar o tédio.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Causos de Borboleta II - Explicável Felicidade
Mas ainda não havia acabado a batalha.
Golpes e mais golpes sucederam, em uma luta intensa.
Fatos e mais fatos ocorreram como se testassem nela a capacidade da esperança.
Ela achava que Deus estivesse ocupado demais para lhe ouvir,
esquecendo seu livro da vida em um cantinho empoeirado do céu.
Parecia o dilúvio da Arca de Noé.
Muitas lágrimas, muitos motivos.
Muitas orações, muitas preces.
Muitos abraços, poucos amigos.
Colo de mãe, cena de filme, jogo de baralho.
Jogar tudo pro alto, ser hippie, morar em Itacaré.
Nada deu certo, obra do acaso, descaso.
Silêncio. Só pensamentos.
Volta e retoma, como eu deveria ter começado?
Mas a tristeza também se dissipa.
Um coração em frangalhos também renasce.
Uma rosa vermelha e perfumada substitui a murcha de alguns dias.
Um caminhão de infelicidade passa.
Surge o sol, mais amigos.
Menos lágrimas, mais fé.
E a felicidade se explica, depois de muitas horas de relógio
Alguém aí cronometrou o tempo?
Para ela, quatro estações se passaram.
Ela ficara um bom tempo no inverno.
Algumas emoções congelaram - passado.
Um suspiro aliviado de quem não cansou de esperar,
Borboletas amarelas em par - as prediletas!
Um coração de sol, pai de toda a cor,
E a felicidade vindo do céu, chovendo em sua cabeça como uma poeira de estrelas.
Ninguém viu um dia a tristeza do passado.
A alegria do presente não deu pra ser segredo.
É inevitável sentir a felicidade pululando nos olhos da menina.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Causos de Borboleta
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Leãozinho caminhando sob o sol
Ouvia essa música hoje pela manhã e ela me lembrou meus últimos dias. Um leãozinho molhando a juba com todos os sorrisos permitidos pela vida. E eu ainda me deixo surpreender com a capacidade desses leões vorazes como Caetano, detentores de um poder magnânimo de consagrar poesia em música:
"Um filhote de leão, raio da manhã
Arrastando o meu olhar como um ímã
O meu coração é o sol pai de toda a cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu
Gosto de te ver ao sol, Leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba"
Excelente 2009 pra vocês, com direito à muita vida.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Imprevisto, visto
Há dias em que a gente espera tempestade, furacão
Amor no portão
Dia de cinderela
Batuque de tambor, abraço apertado, calor.
Há dias em que a gente nada pede e nada quer
E dias de tanto querer e malmequer!
Há dias em que não há felicidade, nem cidade
Há dias em que tudo há, mas nada é verdade.
Dias de pé no chão, sorrisos, risos
Dias de grito, suplício, um rasgo no peito
Olho no olho de quem gosta, amor, respeito
Beijos de cinema, olho na tela, novela
Dias meus, dias seus, dias dela
Dias de nada pedir, dias de agradecer
Oferecer
Coração, perdão, oração.
Dias de se partir em dois, repartir
Dias em que o tempo abre
O vento vem forte, a porta bate,
a brisa passa,
estado total de prosa, poesia e graça
Amor sem graça
Tudo passa
Menos a brisa inesperada
Dos dias que estão por vir.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Nostalgia
domingo, 18 de janeiro de 2009
Sem saber
Usava um vestido estampado, rasteira no pé,
No cabelo uma flor, perfume de mulher
Entrava na roda de samba sem medo
Dançava e tinha o sol no sorriso
Quebrava e não se importava com isso
Mandava e eles obedeciam.
Ela tinha o poder
Poder de passar pela avenida
Com olhos lancinantes, de puro desejo de vida
Parava a todos com cara atrevida
Sabia que provocava, mas nem queria entender
Ela era assim, alguém de alma pura
Amava com o coração, não guardava amargura
Não se sentia mais mulher que as outras, mas era
Sua beleza vinha da terra
Não usava pó no rosto nem tinha salto alto
Era bela, como só ela
Deixava o sol entrar na janela
Cantava as músicas que dizia ser dela,
Fazia poesia quando queria
Mas o que ela mais gostava
Era da brisa do fim de tarde,
Pôr do sol de verão ao entardecer,
Seu amor no portão, vindo lhe ver
E passar a noite contando estrelas,
Enquanto ele cantava canções em seu ouvido
Pra moça mais bela
Que passava os dias na janela
Sem esperar muito da vida
Sem saber que tão bonita,
Tinha o mundo em suas mãos,
Como a flor colorida que em seus cabelos habita.