sexta-feira, 19 de junho de 2009

Fragmentos do eu

Um rasgo no peito.
Um mero imperfeito, acaso defeito
Mortal, se sabe.
Parou para sentir sob os pés o barulho das folhas secas desmanchando.
Não havia paz, não havia dor.
Havia o mudo.
Olhava-se no espelho e perguntava-se: quem é este?
Andava a esmo sem pedir e sem dar-se conta.
Nascer, viver, existir.
Fragmentos de vida em flashes.
Lembrou-se de que não havia sido feliz até ali.
Recusou convites,
Evitou pessoas,
Proferiu poucas palavras,
Atravessou a rua.
Não foi amante carinhoso.
Não fumou maconha.
Não gritou quando teve vontade.
Não disse tudo o que tinha pra dizer para quem merecia ouvir.
Palavras polidas, tão medidas para evitar estragos!
E agora ali, seu veredicto.
Pensou em deixar cartas.
Pensou em viver tudo em dois dias.
Pensou em pedir ajuda, dizer o que estava entalado.
Haveria outras vidas, talvez?
Haveria de se reconhecer no espelho?
Deixaria de pensar no depois?
Gostaria de ser mais amado?
Se ele morresse amanhã, era fato.
Faltava-lhe tantas coisas!
Sentia-se vivendo ao acaso.
O amanhã, será um fardo?
Não há mais nada a temer.
Perdera tempo com divagações tolas.
Palavras proferidas ao acaso.
Não há nada a perder.
Pedaço de trapo humano, presente é seu verbo.

domingo, 14 de junho de 2009

Miserável inocência

Não tinha parado para observar aquelas criaturas miúdas.
Crianças, não eram.
Tinham a diminuta estatura, e também a pouca idade.
Seres agressivos, tinham as mãos calejadas pelo pouco ócio
Um linguajar absurdo,
Algumas palavras impronunciáveis.
Meu Deus!
Aonde criaram estes pequeninos seres hoje endiabrados?
Por que eles já sabem dos absurdos que falam?
Seus trejeitos e manejos passam longe da inocência.
Vida ingrata!
Acaso foram alimentados ao nascer?
Afinal, sentiram o amor no seio materno?
Não há amor naqueles olhares.
Existe uma malícia profunda no modo como olham e falam.
E os transeuntes também fazem pouco caso do fato.
Seguram suas bolsas com passo apressado ou despejam-lhes nas mãos algumas moedas.
Criaturas pequenas e sem casa.
Como conhecer o amor se foram concebidos ao acaso?
E que culpa possuem de serem marginalizados?
Quem ao certo, teria escrito destino tão cruel e fadado ao fracasso?
Talvez nem o amor corrija esse pecado.
Choque profundo, seriam perfurados com dor
Como as lâminas cortantes que carregam.
Que seriam essas criaturas, de olhos ardentes?
Onde foi parar a inocência de quem chora por um brinquedo?
Pequenos seres, inclassificáveis.
Produto de que, ninguém sabe.
Tortuosos caminhos são os que percorrem.
Ruas e avenidas sem destino.
Deveriam ser pequenas crianças sorrindo em seus lares.
Mas, meu Deus, são pequenos marginais disfarçados.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dizeres




Ao longo da minha pouca vida, até hoje, as pessoas me dizem muitas coisas.
E digamos que eu leve isso muito em consideração.
Dizem, por exemplo, que vêem muito amor em meus textos.
Que pareço sempre estar apaixonada.
Que sou eu demais quando escrevo.
Perguntaram-me, certa vez, no que eu ainda acredito.
Nestas conversas, sabe? Quando a gente pára pra pensar a que viemos.
E eu disse que só acreditava no amor, sentimento mais sólido impossível.
Foi quando me disseram: "ah, o amor também já foi corrompido".
Parei pra pensar, e não consegui ver amor corrompido.
Sei lá o que essa palavrinha significa para cada um de nós,
Mas amor declarado, rasgado, como amor de mãe e filho ou amor de amigo, nunca morre.
Talvez eu esteja errada, mas acredito em amor eterno.
Só que não podemos esquecer que aqui é um espaço para devaneios, então, deixem-me divagar nestas mal traçadas linhas, desta vez, sem rimas.
Mas acontece que cada pedaço do dia modifica a gente,
Alguns pensamentos morrem, outros perduram,
E não sou mais quem era ontem.
Parei de acreditar em príncipes - faz tempo.
Parei de acreditar em felicidade plena.
Parei de acreditar em declarações súbitas de amor.
Parei de acreditar em manifestações de carinho de quem mal conheço.
Parei de acreditar que fingir é o melhor remédio.
Só que ainda não consegui deixar de me apaixonar todos os dias.
De colocar amor em tudo o que faço.
De não olhar nos olhos quando carrego uma mágoa.
De negar um abraço quando estou triste com quem me feriu.
De dizer a verdade quando ela me é exigida.
De mostrar que gosto mais de você do que você de mim.
De sorrir com o fundo da minha alma, só pra te dar bom dia.
De soltar gargalhadas histéricas porque, realmente, achei muito engraçado.
De mandar uma mensagem porque me preocupo.
De falar de amor quando ele está corrompido.
De dizer te amo, sem necessariamente querer recebê-lo de volta.
De ouvir a mesma música um milhão de vezes,
Porque simplesmente, me apaixonei pelos seus acordes.
De amar, desesperadamente, sem saber a quem, ao que, por quê.
De ser piegas do início ao fim deste texto,
Porque o amor só acaba se conseguir a façanha de corromper-se a si mesmo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Escritos

Procurando explicações para as coisas mais absurdas.
Não, não quero entender.
Não sei se faço poesia muda,
Não sei se voce é digno de merecer.
Andei com lágrimas no rosto.
Tentei, mas não pus fim ao desgosto.
Remei, remei e consegui.
Adoro seu beijo de chegada e antes de partir.
Às vezes parece temporal.
Passa, arrasa e faz mal.
Noutras é noite prateada,
Sorrisos, boas notícias e alma lavada.
Às vezes não sei escrever.
Noutras te odeio porque não sabes me ler.
Detesto auto elogios e como se põe em primeiro lugar.
Melhor curar sua baixa estima, antes de alguma coisa falar.
Primeira pessoa do singular, por que sempre eu?
Tanta coisa boa a falar, tanta coisa que se perdeu...
Prefiro a mesa do bar, os poucos amigos, a velha rotina
Fazemos filosofia, falamos sobre o tempo, a cidade -
teorias divinas...
Divino é estar assim, este poema, cheio de tantas pessoas,
E eu que achei que era só,
Do bem e do mal, só ficam as coisas boas.