segunda-feira, 30 de março de 2009
Amenidades
daqueles em que o céu amanhece bem azul e os pássaros cantam.
Encontrou tanta gente cantando na rua, que deu vontade de cantar também.
Ela sempre canta, mas canta baixinho, com medo de descobrirem os seus segredos.
Deu vontade de andar a pé, e ir olhando o caminho.
Sentia as pedrinhas da calçada no fundo da sapatilha baixa,
do jeito que gosta assim, de estar, bem à vontade.
Sorriu para o menino pequeno que sorriu para ela sentado na calçada.
Saiu com os óculos de armação quadrada preto e branca que a deixa um tanto sisuda,
Mas logo a máscara cai, e ela cai no riso se vê algo absurdo.
E lá vem pela rua sapeca, a menina moleca
Com aquele sorriso safado de menino pequeno aprontando algo.
Vez ou outra dorme até sem rezar, mas o Pai lá de cima balança a cabeça, sorri, e perdoa.
Não é por acaso o cansaço,
Passou o dia todo a brincar.
Brincar de viver vida de adulto, pensa que é gente grande.
Mas quando dá um aperto no peito e não tem quem abraçar,
Ela deita na cama e cai no choro.
E só dorme feliz sem rezar nos dias que encontra seu grande amor,
um dia pequeno,
Que a distância não é capaz de apagar.
Os risos, as histórias, as mãos, o olhar terno
Uma boa notícia,
Tempos vindouros,
Um "eu te amo" na tela do computador...
Uma lágrima, dois sorrisos,
Câmbio, desligam.
E dorme do mesmo lado da cama,
Segurando o dedo,
Um sorriso no canto da boca,
Adormece, e sonha.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Comédia da Vida Privada?!
Privada. É pra este lugar mesmo que devereríamos mandar certas situações de nossas vidas. Hoje eu vou falar sobre relacionamentos. Não em forma de poesia, como venho fazendo quase sempre por aqui, porque certos assuntos perdem o brilho e têm que ser discutidos em forma de prosa mesmo. Longe de mim aqui querer dissertar histórias de relacionamentos como muito bem fazem as mulheres do blog Mulé Burra, contando dramas femininos em relacionamentos com uma boa dose de humor, sempre necessário.
Mas eis que eu vejo tantas amigas (e não fujo aqui do exemplo) que passam por situações que trago à tona hoje. Primeiro, a moça conhece o cara. Ou em um ambiente comum dos dois, seja escola, cursinho, faculdade, ou em uma festa, ou foram apresentados por amigos em comum. Começam as trocas de olhares, conversinhas e, depois de um certo tempo, um arquétipo de casal se forma. Não é bem um casaaal, porque eles só ficam juntos quando ele liga - e a boba aceita em ir encontrá-lo "porque ele foi tão carinhosinho no telefone, me mandou uma mensagem linda..." e é aqui que o drama se inicia.
Claro, ninguém começa um relacionamento namorando. Então no começo é somente aquele fica-fica, adiciona ali no msn, em site de relacionamentos, se encontram mais vezes, mas ninguém tem responsabilidade em dar satisfação da vida pro outro. Mas o relacionamento vai ficando cada dia mais gostoso, geralmente a moça se envolve muito mais, conta para as amigas sobre "o peguete" que está ficando, e por aí vai. Ele lhe manda links de vídeos de músicas no youtube que ela assiste vezes e mais vezes, e, pra não cair no esquecimento, ainda cantarola tomando banho e saindo de casa.
Depois de um certo tempo, o cara some. Não deixa mensagens, não liga, não dá notícias. Ela liga, ele é super frio, dá desculpas para não sair. Ele mal puxa uma conversa esporádica no msn. Mais uma tentativa da moça, eles conversam, e ele diz que não dá pra ir adiante, que eles estão se apegando demais, que não quer um relacionamento sério no momento. Os motivos? Milhares. "Não é você, sou eu", "A gente se encontrou na hora errada", "Você merece um cara melhor", "Não tô com cabeça pra namorar agora", e por aí vai. A moça, toda abatida, conversa com as amigas. A amiga sincera saca que o cara quer dar o fora, pede pra ela tocar a vida e seguir adiante. Mas a amiga abandonada continua a acompanhar a vida do cara na Internet, ainda assiste aos vídeos no youtube, ainda se perde na aula pensando no canalha e em todas as palavras tolas que ele lhe disse, nas risadas que deram, no beijo de perder o fôlego, move e remove o mundo e não entende por que não deu certo.
Passados mais alguns dias, o resultado. A moça está novamente navegando na Internet, tentando ignorar os vídeos do youtube e vai na página do site de relacionamentos do fulano, assim, como quem não quer nada... Novidade pra ela, o status mudou: namorando!!! Como assim? Por que não comigo? O que eu tenho de errado? Mais uma volta no site para ler os depoimentos da namorada pra ele, dele pra namorada, olhar fotos e legendas clichê, do tipo "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você" e por aí vai.
Dor, orgulho, ódio... e a pobre moça não entende porque foi substituída por uma moça feia, ou semi-analfabeta, ou com péssimo gosto musical, ou dançarina de arrocha, ou com um belo derrière, mas sem nada na cabeça... "Onde foi que eu errei?" - ela se pergunta.
Como um bom drama, a história acaba por aqui. Tinha que ser chocante? Pois é, essa é a realidade de muitas mulheres por aí. E aqui está a minha admiração pelo sexo feminino. Ela está sempre ali, sofrendo, acreditando, lutando. Resolve no dia seguinte acordar belíssima, colocar a melhor roupa, mudar o cabelo. Olha para os lados e descobre que seu novo alvo é... gay. Passam-se os dias e aquele gatinho que está dando mole pra ela na fila do banco é... casado. Sai pra uma festa, fica com um cara e no dia seguinte descobre que ele é... noivo há quinze anos. Desculpem o discurso feminino, mas é preciso ser muito mulher pra agüentar tudo isso, não cair do salto, continuar sorrindo e ainda jurar pra todos que o que aconteceu é passado, já foi. Mesmo que à noite ela ainda chore escondido ouvindo no mp3 a música que o cafajeste lhe mandou no vídeo do youtube, há exatamente quinze dias atrás.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Romance e banho de água fria
O fato é que se encantaram tanto um pelo outro que trocavam sorrisos com os olhos.
Ela tinha uma paixão infinita por tintas, pincéis, paisagens, bichos e cores.
Ele tinha um raciocínio lógico, mas por ela, morria de amores.
Eles perdiam as tardes conversando sobre os mais diversos temas.
Ela bebia vinho, sorria lépida e escrevia poemas.
Tinha raiva às vezes de deixar sair do peito seus amores.
Mas tremia cada vez que recebia cartas, poemas e flores.
Começou a mudar seu gosto musical.
Aceitava numa boa qualquer música que falasse de amor, carinho, etc e tal.
Tinha passado tanto tempo sem nada sentir, sozinha era ela
Encontrar um amor, tão parecido consigo assim, quem dera!
Só dela.
Dela? Quem era?
Ela estava sentada em uma sala em frente à tela de cinema.
O casal retratado estava ao seu lado.
Perdera o tempo em que passara imaginando coisas.
Besteira, amar, existe isso?
Começam as reflexões filosóficas.
Uma carreira, um trabalho, um filho...
Um pai para o filho.
Relacionamento estável. Não, não precisa ser estável.
Esse filme está um saco, foi-se o tempo em que chorava no cinema.
Quer romance? Leia um poema.
Cansou-se de ler Florbela Espanca e cantar Vinícius.
Nos dias mais frios, pegava o cobertor, o anti-depressivo
E assistia a dramas pra passar o tédio.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Causos de Borboleta II - Explicável Felicidade
Mas ainda não havia acabado a batalha.
Golpes e mais golpes sucederam, em uma luta intensa.
Fatos e mais fatos ocorreram como se testassem nela a capacidade da esperança.
Ela achava que Deus estivesse ocupado demais para lhe ouvir,
esquecendo seu livro da vida em um cantinho empoeirado do céu.
Parecia o dilúvio da Arca de Noé.
Muitas lágrimas, muitos motivos.
Muitas orações, muitas preces.
Muitos abraços, poucos amigos.
Colo de mãe, cena de filme, jogo de baralho.
Jogar tudo pro alto, ser hippie, morar em Itacaré.
Nada deu certo, obra do acaso, descaso.
Silêncio. Só pensamentos.
Volta e retoma, como eu deveria ter começado?
Mas a tristeza também se dissipa.
Um coração em frangalhos também renasce.
Uma rosa vermelha e perfumada substitui a murcha de alguns dias.
Um caminhão de infelicidade passa.
Surge o sol, mais amigos.
Menos lágrimas, mais fé.
E a felicidade se explica, depois de muitas horas de relógio
Alguém aí cronometrou o tempo?
Para ela, quatro estações se passaram.
Ela ficara um bom tempo no inverno.
Algumas emoções congelaram - passado.
Um suspiro aliviado de quem não cansou de esperar,
Borboletas amarelas em par - as prediletas!
Um coração de sol, pai de toda a cor,
E a felicidade vindo do céu, chovendo em sua cabeça como uma poeira de estrelas.
Ninguém viu um dia a tristeza do passado.
A alegria do presente não deu pra ser segredo.
É inevitável sentir a felicidade pululando nos olhos da menina.