domingo, 24 de janeiro de 2010

Boca da Noite

Tanta ternura naqueles olhos tristes,
Tanta candura naquele semblante,
Um tanto de pouco e um cadinho de muito.
Na boca da noite guardava segredos
que a seu coração partia.
E guardava seu canto de tristeza,
Dentro de um canto que não lhe cabia.

Na euforia, esquecia de derramar lágrimas
Enquanto manchava o azulejo.
Palavras veladas que não escondiam
Tristeza, medo, desejo.
Os olhos tristes que olhavam e gritavam
Enquanto sucumbia, silenciosamente -
Chuva que caía dentro de si.

Na porta que se fechou, ainda havia uma fenda
Na barra do vestido, tecido de renda,
Na água que apagou, a chama acesa.
Na visão cristalina da menina que lhe apareceu
Um lampejo, um ensejo, um despejo
Na ausência do que lhe partia,
Restara-lhe um beijo.

Naquela noite, não quisera despertar.
Lá, onde a alma morava,
Lá, lugar de vestígios,
Lá, onde ainda podiam ler-lhe os olhos,
Lá, naquela noite, a dor não vingara.

Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

Carissima colega de profissão, parabéns pelo espaço singelo e bonito!

te sigo!