Mas tive hoje uma vontade de contar um causo.
Causos desses, de borboleta,
Daquelas que só andam em par na primavera
E quando estão sozinhas é obra do acaso.
O fato é que me contou essa borboleta
Que um dia, a menina-mulher de pouca idade
De pés nus flutuava em uma órbita distante,
Quando encontrou o capitão da sua embarcação,
que em sonhos um anjo veio avisá-la.
Ela não sabe ao certo se o capitão era o anjo no sonho,
O fato é que da órbita voltou.
Encontrou a embarcação, o capitão, o mar calmo
E em noite de muitas estrelas,
feito Guma e Lívia, em alto mar se amaram.
A menina-mulher de pouca idade quase nada sabia da vida
Porque na maioria das vezes era menos mulher, mais menina,
E sentava com seu vestido curto a enrolar nos dedos seus cachos.
Em dia de sol borboletas vinham em par visitar-lhe,
E encontrava a menina dos cachos aninhada em seu capitão, sentindo-se amada
E as borboletas partiam, compadecendo-se do olhar da doce menina
Como se prevessem a chegada de um inverno pálido.
Eis que um dia a serelepe menina-mulher acordou mais cedo
E não estava mais no barco.
Voltara à órbita em que se encontrava, só que mais perdida
Descera a procurar o capitão e seu barco
Mas ele partira. Como borboletas que somem no inverno,
Alguém deixara seu coração em pedaços.
Agora volta a borboleta amarela, cor de primavera
Contar que a menina-mulher, linda que era
Muito chorou, mas tão linda era ela
Que sua própria embarcação montou.
Agora mais mulher do que menina,
Deixou de enrolar seus cachos
Para cantar para as borboletas no inverno.
Hoje elas aparecem aos pares,
Enfeitam a terra e os sete mares,
E a mulher-menina é rainha da embarcação.