terça-feira, 31 de agosto de 2010

Dos poucos saberes

Do amor nada sei,
...sou sabido
fruto de deliciosas brincadeiras de pé de ouvido
e de perigosas tentações e intrigas.
De algo poderoso e oculto
que anseia por um rio de águas ardentes
um rio que conclama a um mergulho afoito
até que então um mar se esvai.
Sou sabido dessas coisas
das conversas tortas e vivas e um vinho tinto
que descansa numa taça já perdida
e um cigarro de depois...
Nada sei do porvir,
Da carta começada que não chegou ao fim,
Do desejo de partida que não se consumiu.
Sei dos meus vagarosos passos,
Que hesitam, ao compasso dos desafios.
Sou parte do que se uniu,
Inteiro ausente,
Metade de nenhum dos dois.
Quem sabe um nó pendente,
Pronto, somente, para desatar.
Mergulho em rio de águas claras,
Ao passo em que me julgas perdido.
Já sou bem nascido,
Chorei em teus braços,
Dormi num abraço,
Sigo hoje os passos
Do desconhecido.
Deixei minha carta,
Para falar-te do amor consentido.
Sabido, eu sou liberdade,
Sou todo saudade,
Parto, mas deixo meu beijo contigo.


(Indhira Almeida/ Edgard Neto)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

No que foi

Tinha cor, tinha gosto de... boca.
Naquelas noites em que as canções eram pra ninguém,
Duas doses de desejo no fundo de um copo qualquer.
O olhar disfarçava qualquer traço de loucura.
Um gole de conhaque pra espantar o frio,
Um trago do cigarro que não sabia fumar,
A lua, a boca do batom vermelho.
Fotografias em preto e branco.
Um dia qualquer,
Um poema inacabado,
Pedaços de papel velho.
O rosto, o olhar, o sorriso,
O gosto.
Rabiscos do passado,
Adeus não pronunciado,
Descida na próxima estação.
Desejo,
Algum outro e qualquer episódio inacabado.