quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nostalgia

Cair de tarde em Vitória da Conquista, verão , pôr do sol e uma paisagem paradisíaca em frente a meus olhos. É a cidade de onde sou filha adotiva e onde sou também conquistense. Ainda me gabo de andar de ônibus nessa cidade com uma agradável paz - sem pressa, sem lotação, sem gente se esfregando, sem engarrafamento e aquele calor insuportável resultado da mistura de gente e CO2... É que ainda vivo em uma cidade com pouco mais de 300 mil habitantes, que me concede uma certa paz, ao menos à luz do dia. É uma cidade onde mesmo sendo verão, o clima ainda é agradável comparado às outras cidades do Nordeste. Em pensar que desejei tantas vezes sair daqui, e ainda desejo! Mas é que o bom filho sempre retorna à sua casa, e mesmo partindo, voltarei, pensando e amando as coisas que hoje abomino. Mas hoje não pensei em nada, apenas vim ouvindo minhas músicas no mp4 e olhando as pessoas. Estrada da Uesb reformada e bonita de se ver, pessoas fazendo caminhada, andando de bicicleta, gente voltando do trabalho, mais e mais construções que se aprontam em um tempo surpreendente, e a bela paisagem que vos falo, a cidade vista do alto, ali no Mirante do Candeias. O pôr do sol incrível e aquela imensidão de prédios, casas, histórias de vida, gente! E ali é muito lindo também à noite. Só não experimentem passar a pé, porque o esporte de alguns por ali é o assalto à mão armada. Coisas que não dá pra fugir em qualquer lugar, infelizmente.
Mais tarde pensei em partir. Partir para voltar, com aquele saudosismo típico de um coração que adora memórias. E ando sozinha por estas ruas, esboçando sorrisos tímidos de muitas lembranças, olhando nos olhos dos que passam, sentindo Conquista pequena demais para mim, e grande em meu coração. É como voltar de viagem: nenhum outro lugar tem essa paz, esse clima, essa cidade com nome redundante de onde saíram pessoas que alcançaram muitas vitórias e conquistas, e para onde queremos voltar pra sentir seu aconchego. Mesmo sem mar. rs

domingo, 18 de janeiro de 2009

Sem saber

Ela era bonita porque, simplesmente, se deixava ser
Usava um vestido estampado, rasteira no pé,
No cabelo uma flor, perfume de mulher
Entrava na roda de samba sem medo
Dançava e tinha o sol no sorriso
Quebrava e não se importava com isso
Mandava e eles obedeciam.
Ela tinha o poder
Poder de passar pela avenida
Com olhos lancinantes, de puro desejo de vida
Parava a todos com cara atrevida
Sabia que provocava, mas nem queria entender
Ela era assim, alguém de alma pura
Amava com o coração, não guardava amargura
Não se sentia mais mulher que as outras, mas era
Sua beleza vinha da terra
Não usava pó no rosto nem tinha salto alto
Era bela, como só ela
Deixava o sol entrar na janela
Cantava as músicas que dizia ser dela,
Fazia poesia quando queria
Mas o que ela mais gostava
Era da brisa do fim de tarde,
Pôr do sol de verão ao entardecer,
Seu amor no portão, vindo lhe ver
E passar a noite contando estrelas,
Enquanto ele cantava canções em seu ouvido
Pra moça mais bela
Que passava os dias na janela
Sem esperar muito da vida
Sem saber que tão bonita,
Tinha o mundo em suas mãos,
Como a flor colorida que em seus cabelos habita.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Começo de 2009, pedaços de 2008

2009 começou com abraços apertados, sorrisos e depois uma bela levada elétrica na rua, com camisa de bloco, axé no volume máximo, um calor insuportável, reencontros, pessoas, bebida, risos e fogos de artifício projetando todo o tipo de luzes no céu. Em 2008 eu começava o ano da mesma forma. Predestinação? Supertição de reveillon? Acaso? Plano? Não sei ao certo. Só sei que era pra estar lá, porque deu tudo certo na última hora e quem não planejava viajar, viajou. Sempre achei que estar seguro na vida era planejar cada pedacinho dela, ter certeza do amanhã. Dos meses, dias, datas, horários. Mas neste ano, não fiz planos. Olhei para as luzes projetadas no céu, pessoas que amo do meu lado, lembrei de palavras de incentivo e fiz uma prece. Pedi por realizações que Deus quiser me dar. Não especifiquei o que, pois parece que perdi o controle sobre o que quero. Não pedi felicidade, porque felicidade longa não existe. Felicidade tem uma duração muito curta, é o momento de um abraço, da troca de uma palavra carinhosa, de um sentir no coração que quer explodir e você não sabe por que... Tente contar os segundos para pronunciar a palavra felicidade e saberás a duração dela. Agora momentos felizes, como aqueles que senti, pedi vários. E pedi mais coisas que não sabia o que. Tenho vários defeitos, mas uma qualidade que digo que possuo sem modéstia é a capacidade de assumir o que não sei. E desta vez estou assim, cada dia sabendo menos.
E não sei também por quais águas navegarei. Estou perdida em um mar enorme de meu Deus, em uma canoinha humilde. Tenho os dois remos nas mãos. Mas é muita água e não sei em que direção partir. Está escuro. Mas ainda tenho a canoa e os remos. Tenho também um pouco de esperança, que em dias se transforma em tristeza, noutros em blasfêmia, noutros em comodismo, noutros em depressão passageira. Uma chuva fina me irrita, um dia de sol me dá ânimo pra remar horas a fio, uma noite estrelada me dá os sonhos mais bonitos. Mas ainda continuo na canoinha. E quando penso que estou sozinha, olho pro lado, e vejo que há mais gente como eu. Em canoinhas furadas colocando a água para fora com baldes, sem remos, com um remo somente, outros olhando pro nada... são muitas canoas, muita gente e muitas águas.
O que posso tirar de lição dos últimos meses de 2008 e de todos os meus dias de vida é que o sofrimento é uma coisa boa. Porque você sofre, reza, blasfema, mas reage. Aquilo te corrói, machuca, você procura ajuda e se vê cercado de amigos. Você aprende, se torna mais humilde, olha pra realidade do outro. E aprende o mais importante: o sofrimento só dói em um momento. Depois ele passa, e com ele passa a dor. Mas a felicidade não: por mais que ela seja curta, afaga, agrada, percorre suas veias com uma adrenalina fantástica e você jamais esquece. Felicidade jamais é passado. Sofrimento sim.
Um excelente 2009 pra todos vocês! Se precisarem de um remo emprestado, oferecerei-lhes o meu. Se sua canoa furar, venha para a minha. E se a felicidade faltar, me convide para um dia de conversa. Riremos tanto das nossas misérias e nos lembraremos de mais um dia em que fomos felizes. Por assim viver.